As imagens são de revirar o estômago: tomadas por uma espécie de frenesi assassino, centenas de pessoas, entre elas pescadores profissionais e também simples cidadãos, entram num mar vermelho totalmente tingido de sangue para prosseguir numa matança de golfinhos (no Japão) e de baleias-piloto (nas ilhas Faroe, Dinamarca). Como todos os anos, em certas épocas, famílias e grupos inteiros desses simpáticos cetáceos entram em pequenos golfos e baias para se proteger das intempéries, para se reproduzir, para dar à luz os seus filhotes. É nesses momentos que, com a ajuda de redes, eles são aprisionados e conduzidos às praias onde são esperados pelos matadores. Com a ajuda de facas e facões, os homens se atiram sobre esses mamíferos marinhos indefesos e atordoados e, a golpes, têm suas medulas seccionadas , o que os faz morrer após muito sangrar e sofrer.
A matança de golfinhos é legal e autorizada pelos governos japonês e o das ilhas Faroe (que dependem apenas em parte da dinamarca), sob a justificativa de que se trata de “antiga tradição cultural”. Mas, pergunta-se, de que tradição se fala? a do matar e morrer? golfinhos e baleias-piloto são, hoje, patrimônio da humanidade. Mesmo que estejam em águas nacionais japonesas ou dinamarquesas não pertencem a esses países, nem a nenhum outro. São patrimônio de todos nós. assim sendo, cabe a todos nós protestar e apontar o dedo contra as nações que admitem esses massacres sangrentos. Sem esquecer que esses cetáceos estão entre os animais mais próximos do homem em termos de inteligência e sensibilidade…
A cena se repete anualmente, de setembro a março, sempre com os mesmos protagonistas: centenas de golfinhos são encurralados pelos pescadores na baía de Taiji, na costa oeste do Japão, apesar do protesto de várias organizações ambientalistas. Além dos poucos que conseguem escapar, os golfinhos aprisionados têm dois destinos possíveis: ou são enviados para cativeiro, ou acabam esquartejados para consumo. Só na terça- -feira, 21 de janeiro, foi trucidada quase uma centena desses animais. A lembrar que, com os chimpanzés, os golfinhos estão entre os mais inteligentes e sensíveis animais que vivem na face da Terra. Segundo a agência Reuters, pelo menos 200 golfinhos – incluindo adultos, crias e um golfinho albino, raro, que será mais valioso – estavam presos desde a sexta- -feira, 17 de janeiro, na baía de Taiji. A CNN afirma que este ano eles serão cerca de 500 indivíduos, mais do que é habitual. Com a ajuda de barcos a motor e de redes de pesca, os animais foram levados para uma zona de águas pouco profundas, onde eram esperados por pescadores com roupas de mergulho e máscaras de snorkelling. Eles perseguiram os golfinhos aprisiona- dos até à exaustão e prenderam-lhes as barbatanas com cordas, para impedir a fuga.
Antes, os pescadores japoneses taparam o acesso à baía com uma lona para fugir dos olhares de ativistas ambientais e jornalistas, que tentavam filmar e fotografar o massacre.
Mas o sangue dos animais espalhou-se pela água da baía, para lá dos limites da lona. “Foi usada uma barra de metal para lhes esfaquear a medula espinhal e os golfinhos foram deixados a sangrar, sufocar e morrer. Depois dos quatro dias traumáticos que passaram presos na enseada da matança, foram alvo de uma seleção violenta, separados da família, e finalmente foram mortos na terça-feira”, disse à Reuters Melissa Sehgal, da organização ambientalista Sea Shepherd, que publicou online vídeos da matança.
ÓDIO AOS JAPONESES, AVISA YOKO ONO
A desculpa das autoridades japonesas é sempre a mesma: Trata-se de uma antiga “tradição cultural” do país. Mas que tradição é essa?, pergunta-se. A tradição de infligir sofrimento até a morte? Na região dos Balcãs, no século 15, e apenas para citar um exemplo, existia a tradição cultural do empa- lamento, pela qual criminosos condenados e soldados inimigos eram desvestidos e amarrados sentados nas pontas de longas estacas e lá permanecem, sangrando, até morrer. Deveriam então, os romenos e búlgaros, em nome da tradição cultural, continuar empalando seus inimigos até hoje? Baleias e golfinhos, como todos os demais animais altamente inteligentes ou em risco de extinção não são mais propriedade deste ou daquele país: São, todos eles, patrimônio da humanidade. Assim, com que direito o Japão (e também a Dinamarca, como veremos mais abaixo) massacram golfinhos que pertencem ao patrimônio mundial? Precisarão por acaso os japoneses e os dinamarqueses – duas das nações mais ricas do mundo – de mais alguns sushis ou filés de cetáceos para sobreviverem?
Yoko Ono, viúva do cantor John Lennon, e o ator Matt Damon apelaram aos pescadores que abandonem essa caça anual. Numa carta publicada na sua página de Internet, dirigida aos pescadores daquela localidade da província de Wakayama e ao primeiro-ministro japonês, Ono escreve: “A forma como insistem numa grande celebração da matança de tantos golfinhos e no rapto de alguns deles para vender aos zoos e restaurantes, neste tempo tão sensível politicamente, fará com que as crianças do mundo odeiem os japoneses.” A captura e matança de golfinhos é uma prática centenária naquela região e é fortemente defendida pelos moradores e pelas autoridades, que alegam que ela não está banida em nenhum tratado internacional e que a espécie não está em perigo de extinção.
Direto da Revista Oásis
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